Coisas que deixei de conseguir fazer

Ontem foi o primeiro aniversário da morte do meu pai e confesso que estava com muito medo desse dia. Não fiz planos, não liguei o pc, deixei as refeições preparadas com antecedência e pedi cá em casa para não me chatearem a cabeça; claro que eles não perceberam porquê nem se lembraram que dia era, mas eu também não disse porque odeio mendigar atenção ou outra coisa qualquer.

Assim, passei o dia com muita calma, em meditação, no meio das minhas memórias e recordações. E cheguei a uma conclusão em parte engraçada, mas que na realidade não tem graça nenhuma: deixei de fazer tudo aquilo que me possa deixar sem fôlego. Passo a explicar:

Uma das minhas reacções psicossomáticas à morte do meu pai, muito provavelmente aliada ao facto de eu estar com um princípio de pneumonia na altura, foi a falta de ar. Mas ao ponto de sair do duche a meio, de sair de casa de madrugada só para ir à rua apanhar ar e coisas do género, tal era a sensação de aflição por não conseguir respirar.

Então, ontem cheguei à conclusão que desde esse dia deixei de:

Usar camisolas de gola alta, que eu sempre adorei;

Usar cachecóis, lenços, echarpes, enfim, tudo aquilo que possa tapar a boca, o nariz, constringir as vias aéreas de alguma forma;

Fechar a porta da casa de banho quando tomo duche, fica sempre um pequeno espaço aberto;

Fechar a cabine do duche por completo, também fica sempre um espacinho aberto;

Subir escadas rápido;

Correr ou caminhar em passo acelerado;

Entrar em espaços com muita gente;

Entrar em locais que, mesmo não tendo muita gente, me impeçam de sair a qualquer momento (salas de cinema, por exemplo)

Pôr a cara debaixo de água, seja no duche, na praia ou na piscina; escapa o lavar a cara no lavatório;

E se calhar mais algumas coisinhas que ainda não me apercebi. Enfim, para muitos uma série de disparates sem qualquer sentido, eu sei; com o tempo pode ser que isto vá melhorando. E não tenho imagem neste post porque não consegui encontrar nenhuma que me parecesse adequada!

Comentários

  1. Não é parvo, não. É normal e tornou-se um trauma.

    Muitas vezes com ajuda especializada é que passam e mesmo assim... Tu bem saberás.

    Força com isso. Ninguém tem que criticar ou sequer entender, é respeitar e pronto.

    Beijocas

    ResponderEliminar
  2. Ola minha querida, antes de mais obrigada pelas tuas palavras.
    Depois de ler o teu POST percebo que ontem estivemos em sintonia, a lembrar os nossos. E ontem, tb um grande amigo do meu tempo do liceu, e do voleibol faleceu, era um jovem de 50 anos, saudavel. O cancro quando aparece destroi vidas.

    Estás com ataques de panico? Espero que hoje estejas melhor. Procura ajuda. Vais melhorar, e o teu pai de certeza que te quer ver livre e feliz... FORÇA! Envio-te BOAS ENERGIAS.

    ResponderEliminar
  3. Não me parece parvo de todo. São reações naturais. São defesas que criamos. E não sei até que ponto serão prejudiciais, enquanto forem com conta, peso e medida. Se virarem obsessão, então talvez necessitemos de uma ajuda extra.
    Beijocas

    ResponderEliminar
  4. Eu fui sempre muito nervosa a ponto de tirar a carta de condução foi um pesadelo apesar de passar à primeira. Estive 2 anos sem conduzir depois de tirar a carta. O marido foi-me obrigando mas só perdi o medo quando a necessidade entrou na equação: quando tive de levar o meu pai de urgência ao hospital e depois às consultas. No meu caso, eu esqueci-me do meu nervosísmo na hora da necessidade e hoje já conduzo sem medo. Mas muita coisa pelo meio aconteceu que dava pano para fazer não só mangas, mas o vestido de gala completo :) A nossa mente é uma coisa interessantíssima e que pode ser uma grande aliada ou um grande obstáculo!

    Essas reações hão-de passar com o tempo, e com certeza vais notando pequenas melhorias! Dá tempo ao tempo, pois são traumas muito duros na nossa vida!

    Beijinho

    ResponderEliminar

Enviar um comentário

Mensagens populares deste blogue

O Armário dos Detergentes

Ponderando...

Sobre Mim