Pergunta da semana #2

Ora que a pergunta desta semana foi sugerida pela Soraia num comentário à pergunta da semana passada e é: 

O que dizem os meus olhos?

Muito sinceramente, não faço a mais pequena ideia; sempre fui muito boa, por um lado, a interpretar os olhos e olhares dos outros e, por outro, a não permitir que interpretassem os meus olhos. Ao ponto de, por mais que uma vez, em vários dos cursos de especialização que fui fazendo quando trabalhava, uma série de professores meus, psicólogos experientes e com provas dadas no mercado, dizerem que não conseguiam "ler-me", contrariamente aos meus colegas, de quem falavam (com a devida autorização, em contexto de ensino e formação técnica e com todos nós sujeitos a sigilo, claro) e acertavam em cheio nas suas características ou outros aspectos que estivessem a ser estudados.

E realmente é um facto; eu aprendi desde muito, muito nova a esconder as minhas emoções. Seja porque a família não permitia a expressão de emoções, seja porque todos eram super exigentes comigo e dar parte de fraca era impensável, seja lá pelo que for. Eu sou aquela que, perante a pior tragédia da vida, mantém sempre uma expressão impávida e serena; a que não pode ir ver um espectáculo de stand-up comedy porque nem um sorriso esboça (mesmo que ache graça, manifestar emoções em público é mesmo muito, muito complicado); a que chora desalmadamente, as lágrimas rolam pela cara abaixo, mas ninguém percebe porque não há um som, um soluço, nada (e isto aconteceu-me já várias vezes). E aquela que, hoje em dia, foge a sete pés de toda e qualquer situação que possa ser emocionalmente mais forte, porque já esgotou a sua capacidade de esconder o que sente.

Por isso, neste momento, acredito que os meus olhos digam que estou cansada; cansada de meter tudo para dentro, de não ter o direito de expressar as minhas emoções, de ser sempre a educada mesmo quando me apetece dar dois berros e bater com a porta; cansada de não ter com quem conversar, com quem desabafar, com quem partilhar responsabilidades (sim, eu sou casada, mas neste momento e desde há uns bons anos para cá é como se tivesse mais um filho e não um marido).

Termino questionando-vos: e por essas bandas, o que dizem os vossos olhos?

E mais uma vez agradeço à Soraia pela pergunta, que me obrigou a pensar e a fazer um exercício emocional muito intenso; estava a precisar disto (escreve ela com as lágrimas a rolarem-lhe pela cara abaixo e um sorriso nos lábios!)